Há 45 anos, a Fiat ousou em se instalar no Brasil fora do ABC paulista, região onde estavam já em funcionamento três grandes fabricantes de automóveis. A atitude surpreendeu até mesmo as autoridades da época, menos as mineiras que deram diversos benefícios para que a montadora italiana pudesse falar “uai” e “trem”. Foi no dia 9 de julho de 1976 quando tudo começou.
Ao celebrar a data em 2021, em um momento tão delicado, em meio a uma pandemia mundial, a Fiat ganha de presente a liderança do mercado nacional, posição que havia perdido há quatro anos para a Chevrolet e seu furacão Onix. Sem desmerecer a conquista, é importante salientar: a General Motors é montadora que a mais tem sofrido com a falta de componentes eletrônicos e está com suas fábricas paradas até não se sabe quando.
Mas a Fiat não tem nada com isso. Foi menos prejudicada, mas também se preparou para alcançar o primeiro lugar no ranking de vendas. Fez um completo reposicionamento de marca, renovou seu portfólio e planeja o lançamento de outros novos veículos.
No primeiro semestre do ano, a Fiat foi a marca mais vendida, com 22,1% de participação de mercado acumulada. Também é a marca líder na América do Sul no período, com 14,8% de participação nas vendas totais.
Raízes
O presidente da Stellantis (grupo da qual a Fiat faz parte agora) para a América do Sul, Antonio Filosa, se diz muito orgulho das raízes mineiras.
“Investimos muito, inovamos sempre e impulsionamos a instalação de dezenas de fornecedores no entorno de nossa fábrica. Como resultado, consolidamos um extenso e diversificado parque industrial automotivo, conquistamos a liderança do mercado brasileiro e sul-americano e empregamos milhares de pessoas que desenvolveram seus talentos e são hoje nosso grande diferencial”, ressalta.
O Polo Automotivo de Betim está em processo permanente de atualização. Novas áreas de desenvolvimento de veículos foram implantadas simultaneamente à modernização de instalações, equipamentos, processos e sistemas a partir do conceito da Indústria 4.0.
Segundo a empresa, é o maior ciclo de investimentos realizado na planta mineira, que possui capacitação para desenvolver, desenhar, projetar, testar e produzir veículos globais.
Das Minas saem os modelos que estão entre os mais vendidos no Brasil, com destaque para a nova pick-up Strada, líder inconteste vendas no País no seu segmento. Além do Argo e Mobi, entre outros modelos, uns até mais velhinhos, como o Uno, Fiorino, Doblò e Grand Siena. E ainda são produzidas as famílias de motores Fire, Firefly e GSE Turbo. Neste semestre chega o Pulse.
Mineirização
A fábrica na Região Metropolitana de BH é o centro de um polo automotivo que reúne mais de 120 fornecedores adjacentes. A atração dessas empresas e adensamento industrial começaram na década de 1990, em um processo chamado de “mineirização”. Isso permitiu à Fiat operar nos sistemas Just In Time (JIT) e Just In Sequence (JIS), com sucessivos ganhos para sua competitividade.
Foi a base para a expansão da produção. Garante a empresa. A confiabilidade da logística de suprimentos liberou áreas físicas dentro da fábrica, que antes eram utilizadas para estocagem, permitindo a expansão das linhas de produção. Atualmente, cerca de 60% dos itens comprados provêm de fornecedores instalados num raio de até 150 quilômetros da fábrica.
O Polo Automotivo Fiat é a maior fábrica de veículos da América Latina e uma das maiores do mundo. Ocupa uma área de 2,2 milhões de m2 e tem capacidade para produzir 700 mil automóveis e comerciais leves por ano e 1,3 milhão de unidades de motores e transmissões. Desde a sua fundação, produziu mais de 16 milhões de veículos, dos quais 3,6 milhões foram exportados.
A unidade mineira emprega 13 mil pessoas, cerca de metade de todos o efetivo de Stellantis na América do Sul.
Alguns modelos históricos da Fiat no Brasil:
Autonomia tecnológica
Dona da marca Fiat, a Stellantis conta com 100% de autonomia tecnológica na América Latina para cumprir as sete fases no desenvolvimento de novos veículos. Possui um Tech Center e um Design Center, que reúnem mais de 2 mil engenheiros, designers e técnicos.
O desenvolvimento de um automóvel começa no Hub Center, onde as ideias começam a tomar forma. Aí nasce o planejamento estratégico, a visão do produto e as definições mercadológicas que vão nortear o projeto. É um espaço de convergência e interação, que reúne as áreas de Brand, Produto, Mercado e Desenvolvimento de Produto. O consumidor também é chamado a participar desta etapa estratégica.
No Design Center, o conceito começa a tomar forma, em desenhos que conectam funcionalidade e beleza. É um trabalho conjunto com o Tech Center, onde ideias, conceitos e desenhos ganham forma e funcionalidade mecânicas.
Uma área estratégica é o Development Center, um amplo espaço aberto, com 450 postos de trabalho e completa infraestrutura de apoio. Nesta área, todas as ideias, desenhos e conceitos técnicos encontram sua viabilidade econômica e de manufatura. Trabalham neste local profissionais de todas as áreas envolvidas, como Projeto, Design, Compras, Manufatura, Finanças etc, que desenvolvem o business case.
O Virtual Center e seus laboratórios fazem as validações virtuais do projeto à medida que avança, para que a evolução seja consistente. A Manufatura desenvolve os ferramentais e se prepara para a industrialização e futura produção do novo veículo.
No Component Center todos os itens do novo veículos são avaliados.
Assim que protótipo físico do novo veículo fica pronto começa-se a validação no Safety Center. O carro é submetido a vários tipos de testes físicos. Ao mesmo tempo, validam-se o processo de produção do veículo em linha e os parâmetros de qualidade.
Várias unidades do novo modelo são submetidos a testes de rodagem sob a ótica do cliente, para avaliação de desempenho, segurança, conforto e vida a bordo. São percorridos milhões de quilômetros.
Aí começa a fase de pré-série, com a produção do novo modelo na linha em baixa cadência. O modelo é submetido à homologação junto a vários órgãos governamentais. Tudo aprovado, o ritmo da linha de produção começa a ser acelerado. O novo carro está pronto para ser lançado.
Importante são as pessoas
De nada adianta tantas máquinas sem as pessoas. Elas são as responsáveis por todo o processo e que realmente fazem parte desses 45 anos da Fiat. Muitos trabalham nesta fábrica há anos.
Quatro deles têm muito em comum. Com idades na faixa dos 30 e 40 anos, nasceram em Minas Gerais, são profissionais reconhecidos em suas áreas e iniciaram suas carreiras nos programas de trainee. Mas também são muito diversos. São engenheiros, administradores e até designer de moda. Juntos, ajudaram a escrever uma parte importante da trajetória.
É importante conhecê-los.
Classe Mundial
Marcio Tonani, 48 anos, mineiro de Belo Horizonte, ingressou na Fiat em 1992, através do programa de trainees. Ao longo de 29 anos de trabalho, percorreu todos níveis da carreira dentro do desenvolvimento de produtos, tornando-se o responsável pelo Tech Center Stellantis South America, que reúne e coordena a área de engenharia da empresa. Tem formação técnica em Mecanica pelo Cefet-MG, além de MBA Gestão de Projetos e em Gerenciamento de Negócios. Entre 1997 e 2007, passou mais da metade do tempo na Itália, integrando o time de desenvolvimento de novos modelos icônicos na região como Fiat Strada e Fiat Palio.
“O salto da Fiat foi dado em 2001, com a inauguração do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Giovanni Agnelli. Até então, fazíamos poucas etapas do processo de desenvolvimento de um veículos. Mas conseguimos acumular conhecimento e experiência, que nos tornaram capazes de desenvolver e projetar veículos a partir do zero”, explica Tonani.
Este centro tornou-se agora o Tech Center Stellantis South America. Continua a reunir profissionais criativos e talentosos, que agora têm o horizonte ampliado devido ao conjunto de marcas reunido em Stellantis. É referência mundial em tecnologia flexfuel, desenvolvimento de picapes pequenas e médias e em dinâmica veicular, sobretudo suspensão.
“Podemos oferecer nossas competências ao mundo”, diz Tonani. Um exemplo disto é o número de veículos desenvolvidos no Brasil que possuem desempenho comercial importante no mercado, como os Fiat Strada e Toro. O caso mais recente é o Fiat Pulse, o primeiro SUV da marca desenvolvido e produzido em Betim. Outro exemplo é o novo modelo Jeep de sete lugares, que será lançado este ano. “Foi o primeiro modelo Jeep desenvolvido fora dos Estados Unidos. Uma prova de confiança na equipe”, comemora Tonani.
Uma das prioridades é trabalhar cada vez mais conectado com os demais centros mundiais da Stellantis. “Assim, estaremos em contato com o que há de mais moderno e tecnológico no mundo e vamos desenvolver mais rapidamente competência e qualidade profissional para a sociedade”, conclui.
Função e beleza
Isabella Vianna, 41 anos, mineira de Belo Horizonte, é a responsável por Cores e Materiais, Design Gráfico, Mopar e Realidade Virtual no Design Center. Graduada em Design de Interiores e em Design de Moda, é pós-graduada em Design e Cultura e fez o Mestrado em Administração e Marketing.
Começou a trabalhar na Fiat há 17 anos, em oportunidade oferecida pelo programa de estágio. “Como uma designer de moda vai trabalhar em uma indústria pesada de automóveis? Foi uma revolução, não só na minha vida acadêmica, mas na minha vida pessoal. Eu não sabia exatamente o que me esperava. Hoje, sou uma defensora do Design de Moda em várias áreas de atividade, por trazer conteúdos e conhecimentos e acrescentar ao desenvolvimento de um produto”, comenta Isabella sobre sua trajetória.
Ela é estudiosa e admiradora do design italiano, que é um dos principais diferenciais dos carros da marca Fiat. Mas o que é este diferencial? “É a união da função e da beleza que transforma um objeto. Não basta ser bonito, ele tem que funcionar, ele tem que trazer uma existência funcional para o usuário ou mesmo para o próprio objeto”, explica.
“O design italiano no carro Fiat é o nosso DNA e traz formas que são esculpidas, desenhos mais limpos, formas que contornam, que trazem suavidade e ao mesmo tempo esportividade, sensualidade”, acrescenta.
O Design Center South America é o responsável por trabalhos marcantes no Brasil, como a criação da família Adventure, que nasceu como um carro-conceito e se difundiu a vários segmentos. Um destaque é a Toro e, mais recentemente, a Nova Strada, em que o desafio era melhorar um produto campeão. A responsabilidade de desenhar produtos tão estratégicos para o portfólio da empresa foi uma conquista importante para a equipe brasileira de design. Foi a consolidação da confiança do grupo no talento do time, que conhece muito bem o mercado, o cliente, seus desejos e necessidades.
Relações sem defeitos
Geraldo Barra, 44 anos, nasceu em Belo Horizonte e começou na Fiat em 1996. Ingressou no programa de trainee que a empresa divulgou em uma palestra no Cefet-MG, onde fazia o curso técnico de Mecânica. Foi admitido e conciliou o início da vida profissional com a formação em Engenharia Mecânica na PUC Minas.
Percorreu todos os passos da carreira até tornar-se o responsável por Customer Experience da Stellantis para a América do Sul. Esta área é responsável pela qualidade com foco na experiência do consumidor. Trata-se de uma grande evolução conceitual.
Assegurar ao cliente um veículo sem defeitos é o básico. “É preciso que a relação com o cliente não tenha defeitos”, explica Barra. A experiência do consumidor abrange toda a sua jornada, desde o momento em que entra no site, monta seu veículo, agenda o test-drive, compra, financia, recebe o veículo, como o utiliza, como agenda e faz revisões ou utiliza serviços.
“Não estamos olhando para o cliente, mas olhando para nossos processos com os olhos do cliente”, afirma. O que importa é a fluidez da mobilidade e a facilidade com que o cliente se relaciona com o carro e a marca, seja em uma compra convencional, seja em uma assinatura de veículo.
“Aprendemos em nossa trajetória que o que conta é a experiência do consumidor. Mais importante do que estar focada em volumes, o que conta é ser importante para o cliente. Quando busca um carro, ele não quer um veículo, mas procura benefícios para sua vida. É isto que temos que entregar”, acrescenta Barra.
Construção da marca
Hugo Domingues, 39 anos, mineiro de Belo Horizonte, entrou na Fiat há 15 anos. Na época, estudava Engenharia Elétrica e almejava trabalhar na empresa. Conseguiu uma posição na área de Engenharia Eletro-Eletrônica, até que surgiu uma vaga em Marketing. Aproveitou e trocou de área na empresa e na universidade, passando a estudar Administração. Fez carreira em Marketing e hoje é o gerente do Brand Fiat para a América Latina.
Neste cargo, que ocupa desde 2018, ele está comemorando os expressivos resultados no último mês e no acumulado do ano. Para chegar à liderança no Brasil e na América do Sul, a empresa teve que superar grandes desafios. A ausência de um SUV em seu portfólio no momento em que este segmento se expandia e quatro anos seguidos sem lançamentos de novos modelos afetaram as possibilidades de crescimento da marca a partir de 2012. A participação de mercado começou a se retrair e não reagiu como se esperava mesmo após a retomada dos lançamentos em 2016, a partir de quando vieram os modelos Toro, Mobi, Argo e Cronos.
“Tentamos entender o problema e percebemos que apenas retomar o lançamento de novos modelos não resolveria. Seria preciso rever toda a jornada do consumidor, mapeando todos os pontos de contato dele com a Fiat e promover um reposicionamento completo da marca. Assim, depois de 12 meses de diagnóstico e de planejamento sobre produto, experiência do consumidor e comunicação, lançamos o rebranding da Fiat em 2020”, explica Hugo Domingues.
Com um plano de lançamento de produtos já estabelecido, o trabalho de reposicionamento e revitalização da marca teve muito foco na experiência do consumidor e na comunicação, que foram gatilhos importantes para promover o desempenho da Fiat alcançado nos últimos meses.
“Buscamos transmitir em todos os nossos pontos de contato uma mensagem contínua e consistente ao consumidor, para ser digno de sua confiança. É isto que realmente muda a imagem da marca”, detalha Domingues.
Novos canais de atendimento
A Fiat passou, de fato, a entender e se aproximar novamente dos seus consumidores de forma verdadeira, aprimorando o atendimento nas suas 520 concessionárias distribuídas pelo Brasil. Também ampliou seus canais de atendimento digital, lançou ações especiais de varejo, está revitalizando suas concessionárias, valorizou diferenciais como seu caráter ítalo-brasileiro e sua identidade pop, encantadora e espontânea, tanto nos seus produtos quanto nas plataformas de comunicação.
“Estamos novamente mais próximos do consumidor, em conexão com ele. A Fiat é de novo uma marca emocional e apaixonada, que surpreende com um design único, inovações tecnológicas e uma rede de concessionárias muito mais preparada”, assinala Domingues.
Texto: Luís Otávio Pires (*)
(*) Com material de divulgação da Fiat
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